É aquela história que todo mundo já cansou de ouvir. O quanto o mundo do trabalho mudou nos últimos anos nos obrigando a ficar em casa e, como efeito colateral, descobrindo que nem sempre precisamos trabalhar todos os dias juntos no mesmo lugar.
Mas o quanto isso foi uma realidade possível para as empresas? Segundo uma pesquisa do IPEA , só 11% dos trabalhadores no Brasil trabalharam remotamente em 2020. E ainda em vista a tentar se adequar a um novo modelo, com tudo o que nós aprendemos, qual é a melhor opção daqui para frente? Como seguir de forma eficaz sem abrir mão dos prós dos modelos apresentados?
Antes de parar para analisar cada opção, vale se perguntar a coisa mais óbvia: essa é uma escolha que a sua empresa pode fazer? Pode parecer uma dúvida básica demais, mas ela é importante e não tão preto no branco quanto a gente gostaria. Tem a ver com a natureza do negócio (uma padaria não pode funcionar remotamente) mas também com coisas que afetam diretamente a rotina de trabalho.
É preciso se questionar em relação às minúcias do que consiste o trabalho dos setores diretamente relacionados à atividade principal. O quanto se perde sem a troca de informações dos funcionários na rotina do dia a dia? Sem o contato constante entre departamentos? Sem a construção de um espírito de equipe? Em compensação o quanto de economia isso gera na prática? Tem como contornar o convencional e ganhar algo dos dois lados?
A saída é tentar entender os prós e contras destes modelos.
Presencial
Um espaço dedicado a servir à função de permitir aos profissionais realizarem o seu trabalho da melhor forma possível. Sem distrações; sem acúmulo com funções domésticas como lavar louça, fazer comida etc; com interações fáceis e diretas com colegas, gestores; e também uma estrutura e uma facilidade maior de manter a disciplina. Além de coisas que a neurociência explica que agem diretamente no nosso subconsciente: se você bate o ponto e entra no escritório, seu cérebro entende que você está em um momento produtivo.
Por outro lado, da mesma forma, coisas que a gente não considera afetam o colaborador. O quanto ele teve que se preparar e se locomover para chegar. O esforço desnecessário que isso gera, os custos para ele e, claro, para a empresa. Que além de ter que manter uma estrutura mínima para que o trabalho seja feito, também precisa lidar com tudo o que há ao redor disso. Do material de escritório ao frigobar e à salinha de descanso. Estima-se que até 45% do custo fixo de uma empresa diz respeito ao espaço. Já pensou se vale a pena?
Remoto
Sem perda de tempo com o transporte, com facilidade de acesso rápido a todas as ferramentas necessárias para realizar o trabalho, a flexibilidade de poder decidir como trabalhar e como será a organização do próprio escritório. Além disso, a possibilidade de trabalhar de longe, em viagens ou mesmo em cidades, estados, países diferentes. Reuniões e comunicações podem ser feitas a partir de qualquer conexão razoavelmente estável de internet.
Mas para quem tem dificuldade de concentração ou mesmo em empresas que se beneficiam da troca de experiências e contato entre colaboradores diferentes, o modelo pode ser sentido na adequação de produtividade. Fora as distrações do dia a dia, a falta de estrutura física muitas vezes e a inconsistência da experiência de cada empregado. Por exemplo: alguém pode usar um Macbook de última geração dedicado ao trabalho e alguém um computador que compartilha com outras pessoas da casa em momentos fora do expediente. Isso sem contar os efeitos da fadiga de videochamadas e do efeito disso tudo na capacidade de produzir de cada um.
Coworking
Pode ser a saída para algumas empresas. A estrutura de escritórios, o contato com os colegas, as possibilidades de reuniões no dia a dia e tudo o que um ambiente profissional tem a oferecer sem as responsabilidades de manter o funcionamento mínimo deste espaço. Fora a mensalidade, que varia de acordo com a necessidade de cada negócio, o foco e a da empresa está na organização da rotina e na produtividade e não em, por exemplo, se preocupar com a conta de luz ou internet. E ainda há quem diga que o contato com outras empresas no mesmo espaço facilita o network.
Mas é preciso ter a noção de que você, mesmo com uma empresa bem estruturada num local desses, não está trabalhando num escritório que está lá só pra você. Isto é. Está sujeito a regras e limitações de espaço, horários ou privacidade em alguns casos. Fora o fato de que, ao replicar um expediente comercial em um coworking, você ainda está trazendo para os colaboradores o mesmo peso de se preocuparem com transporte, alimentação etc.
Considere o híbrido
Como falamos frequentemente no blog da Ajorpeme, a resposta nem sempre é tão simples e fácil quanto escolher entre as opções A, B ou C. Então aqui vale lembrar do início do texto e considerar o seu contexto, a sua empresa. Quais são as suas características e como elas serão se forem aplicadas a cada um desses modelos.
Se você precisa de uma equipe unida o tempo todo e muito motivada, pode ser que simular isso à distância não gere tanto resultado quanto um escritório básico com todo mundo trabalhando junto. Se você tem um bom local, mas que exige um deslocamento desnecessário de colaboradores que só vão sentar e em 90% do tempo trabalharão isolados conectados à rede, pode ser que o remoto implemente muito a produtividade geral.
Mas também pode ser que você não tenha que abraçar completamente nenhuma dessas opções. Mais e mais, o modelo de trabalho pós pandemia tem se voltado para o padrão do hibridismo nas organizações. Seja com um ou dois dias por semana presenciais e o resto remoto, seja isso num escritório próprio ou via coworking, o papel do gestor é entender como é a rotina de trabalho de cada departamento e tentar entender qual o melhor modelo para cada um deles.
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